Ministério Público denunciou 700 crimes ocorridos durante greve da PM

O Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) ofereceu à Justiça mais de 700 denúncias de crimes ocorridos durante a greve da Polícia Militar no estado. Sete denúncias são contra 10 militares. O número foi apresentado nesta segunda-feira (31), pela Força Tarefa criada para acompanhar e participar das investigações dos crimes durante a paralisação.

O estado viveu a pior crise na segurança da história, no mês de fevereiro de 2017, depois que um movimento formado por esposas, amigos e parentes de policiais militares fechou as entradas das unidades de polícia, exigindo melhorias nos salários dos policiais, entre outros pedidos. Durante mais de 20 dias sem a Polícia Militar nas ruas, houve uma série de crimes e mortes violentas. A Força Nacional e as Forças Armadas precisaram atuar no Espírito Santo.

De acordo com o MP-ES, neste período, a Força Tarefa identificou 210 homicídios, e 50 pessoas foram denunciadas por esse tipo de crime. Segundo o promotor Pedro Ivo de Sousa, coordenador do Centro Operacional Criminal (CACR) e coordenador da Força Tarefa, existem sete denúncias contra dez policiais militares.

“Há denúncias contra policiais militares, e elas envolvem todas as patentes, desde os praças até os oficiais. Os crimes são os mais diversos. Algumas dessas pessoas foram denunciadas mais de uma vez. Agora se inicia uma nova fase, que é a do processo”, explicou Sousa.

Dos dez militares denunciados, seis são praças, um é tenente-coronel, dois capitães e um major.

Ele acrescentou que as denúncias envolvendo militares são resultado de uma atuação com participação da própria Corregedoria da PM, e que os “instrumentos de prova” envolvem depoimentos, áudios e gravações.

Segundo o promotor, o trabalho do MP-ES busca a responsabilização pelos crimes ocorridos no período de paralisação dos militares. “Os latrocínios praticados também foram identificados, e o MP também está buscando a responsabilização, também os atos praticados pelos militares e pelas mulheres envolvidas no movimento foram devidamente analisados. O MP se empenhou, assim como outras instituições públicas, para dar uma resposta a tudo que foi praticado”, disse.

FEDERALIZAÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES

Na quinta-feira (27), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) a federalização das investigações sobre greve de policiais militares do Espírito Santo. Janot acredita que o estado não tem capacidade para apurar os fatos porque, segundo o documento, “há o risco de parcialidade no prosseguimento da investigação e na penalização dos responsáveis”.

Em relação ao pedido, o promotor Pedro Ivo de Sousa garantiu que o Ministério Público Estadual (MP-ES) o vê com “naturalidade e tranquilidade”. “O Ministério Público vai continuar atuando, vamos aguardar o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidir. O MP deu prova de sua capacidade de atuação durante e depois do cenário de crise”, disse.

CRONOLOGIA DA CRISE NA SEGURANÇA

Início do protesto – No dia 3 de fevereiro, um grupo de mulheres e filhas de Policiais Militares fechou um destacamento na Serra. No dia 4, o protesto se espalhou em outros municípios.

Onda de crimes – No dia 6 de fevereiro, videos de arrombamentos e saques de várias cidades circularam nas redes sociais.

A Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos recebeu mais de 200 pessoas em um dia. O DML ficou superlotado e 62 mortes foram registradas em apenas três dias.

Troca do comando da PM – No dia 6 de fevereiro, o coronel Nylton Rodrigues assumiu o comando da PM.

Exército nas ruas – No mesmo dia, a pedido do governo, homens das Forças Armadas e Nacional começaram a atuar no estado.

Comando da PM abre inquéritos – No dia 10 de fevereiro, o comando da PM abriu os procedimentos para punir 300 policiais. As investigações apontaram que houve motim ou revolta, o que é crime.

PMs começam a se apresentar nas ruas – No dia 11 de fevereiro, alguns policiais militares começaram a se apresentar nas ruas de Vitória.

Mulheres desistem de reajuste em carta – No dia 13 de fevereiro, o movimento passou a cobrar melhorias para os policiais.

Justiça ordena saída das mulheres – No dia 14 de fevereiro, uma multa de R$ 10 mil foi estipulada para 10 mulheres caso não deixassem a porta dos batalhões.

Governo rejeita nova proposta do movimento – No dia 20 de fevereiro, a Associação dos Oficiais Militares do Espírito Santo, representando as mulheres do movimento, protocolou uma nova proposta de acordo.

Quase 30% dos PMs da ativa são processados – Com o anúncio da abertura de novos 1.549 processos, o número de policiais militares que respondem inquéritos internos chegou a 2.851, 28% da corporação.

Efetivo da PM é normalizado em 23 cidades – No dia 22 de fevereiro, 23 cidades já estavam com o policiamento, mas 71% seguiam sem o número total de policiais. Os 3.450 militares das Forças Armadas continuavam nas ruas.

Mulheres têm reunião mediada pelo MPT – No dia 24 de fevereiro, movimento, governo e Ministério Público do Trabalho se reúnem.

Fim do protesto – A reunião mediada pelo MPT, iniciada na noite anterior, durou nove horas e terminou em consenso entre mulheres e governo.

Fonte: gazetaonline

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